Monitor Campista, 11 de março de 1984.
Para perpetuar a memória, e assegurar os frutos salutares do Ano Santo de 1925, o Santo Padre então reinante, Pio XI, instituiu a Festa de Jesus Cristo Rei. Justificou sua decisão na memorável encílica Quas Primas de 11 de dezembro daquele ano.
Depois de recordar “(…) que a aluvião de males sobre o universo provém de a maior parte dos homens terem removido, assim da vida particular como da vida pública, a Jesus Cristo e sua lei sacrossanta (…)”, e que baldado será esperar paz duradoura entre os povos, enquanto os indivíduos e as nações recusarem reconhecer e proclamar a Soberania de Nosso Salvador, Pio XI expõe os argumentos da Escritura e da Teologia que exigem a realeza do Divino Redentor.
A implantação desta suave e fecundíssima soberania é frontalmente contrastada pelo laicismo — a praga de nossos tempos, na palavra do Papa — que afirma a autonomia dos indivíduos e dos Estados, nas relações com Deus. Não pode — assim declara o laicismo — o Poder Público impor à sociedade o culto verdadeiro e o ensino da doutrina católica nas escolas oficiais.
No entanto, Jesus Cristo, como Filho de Deus, é, por direito inato, o Soberano dos homens e das nações, uma vez que estas têm também a Deus por autor.
A Festa de Jesus Cristo Rei deveria alimentar nos fiéis a adesão inabalável a esta verdade, e levá-los a se empenharem por que, nas famílias e na sociedade, a realeza social de Jesus Cristo viesse a ser uma realidade.
Foi o que, pessoalmente, visou Pio XI, quando, quatro anos depois, em 1929, firmou o chamado Pacto de Latrão que pôs termo ao dissídio entre a Santa Sé e o Reino da Itália. Nesse ato público oficial, a Itália se proclama Estado Católico, e o ensino da Doutrina Católica se torna obrigatório nas escolas oficiais, a não ser que o responsável pelo aluno, no ato da matrícula, requeira dispensa.
Encerrou assim o Ano Santo de 1925, com uma afirmação pública e oficial da Realeza Social de Jesus Cristo.
Estamos em vésperas de clausurar outro Ano Santo, este extraordinário, comemorativo do 1950° aniversário da Redenção, na qual Jesus Cristo selou com seu Sangue Divino, sua soberania sobre os homens e os povos.
Paralelamente, reúne-se também os plenipotenciários da Itália e do Vaticano para uma revisão do tratado firmado em 1929.
– Resultado?
A revisão anulou a soberania social de Jesus Cristo, solenemente estabelecida em 1929. A Itália já não é oficialmente um Estado Católico: o ensino em si deve ser leigo. Será católico se os responsáveis o pedirem (L’Os. Rom., ed. semanal em port. 26/02/1984).
Tudo de acordo com o Segundo Concílio do Vaticano!
– Terá a Igreja reformado sua doutrina? – Não.
Cabe a pergunta: pode-se ainda falar em Jesus Cristo Rei?
(O pensamento de Dom Antonio de Castro Mayer, p. 51, ed. Permanência, 2010)
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