Uma das acusações mais citadas no processo contra Joana d´Arc, foi a de que ela se recusava a submeter suas visões e revelações à Igreja militante. No caso, ao magistério da Igreja, que na ocasião se mostrava a ela como os bispos, abades e até o cardeal dos Ingleses, partidários da causa da Inglaterra. Joana não distingue em suas respostas que não se submete a este partido ou aos aos clérigos do lado dos ingleses. Diz categoricamente que no que diz respeito as suas vozes e missão, submete-se unicamente à Igreja lá de cima, a Igreja triunfante porque foi esta que a enviou.
"Vim ao reino da França da parte de Deus, da parte da Virgem Maria e de todos os santos e santas do Paraíso, e da Igreja vitoriosa do Céu, e por sua ordem. A esta Igreja, submeto todos os meus bons atos, e tudo o que fiz ou farei."
E em outra ocasião:
"Submeto-me a Deus, a cuja ordem sempre obedecerei. Sei perfeitamente que aquilo que está em meu processo aconteceu por ordem de Deus. O que eu afirmo no processo ter feito por ordem de Deus, teria sido para mim impossível fazer o contrário. Se a Igreja Militante me ordenar fazer o contrário, não me submeterei a um homem no mundo, mas a Deus, pois sempre cumpri a boa ordem de Deus."
Lendo estas respostas, parece que estamos diante de um pessoa que desconsidera a Igreja da terra, os padres, os bispos e até o papa. Alguém que prefere suas revelações particulares à orientação da Igreja. Atitude que não se encontra na vida de outros santos. Eles estavam dispostos a renegar tudo, bastando para isso que um bispo ou padre proibisse. De certa forma, teria sido Joana a primeira protestante, a primeira a crer numa Igreja invisível, cujo relacionamento com Deus se dá de individuo para individuo sem necessidade de pastores ou leis a qual todos devem obedecer?
Outras respostas de Joana aos juízes esclarecem o que ela submete unicamente a Deus.
São estas:
"Quanto à Igreja, eu a amo e desejaria sustentá-la de todo o meu poder, pela nossa fé cristã, e não é a mim que se deva impedir de ir à Igreja e ouvir missa. Quanto à boas obras que fiz e à mina vinda, entrego-me a Deus, que me enviou a Carlos, filho de Carlos, rei de França, e que era rei de França..."
"Creio que nosso Senhor, o papa de Roma, os bispos e outras pessoas da Igreja , devem defender a fé cristã e punir aqueles que caem em falta. Quanto a mim, a respeito de meus atos, não me submeterei senão à Igreja do Céu, a saber a Deus , à Virgem Maria, e aos santos do Paraíso."
"Eu desejo honrar e reverenciar a Igreja militante de todo o meu poder. Quanto a submeter meus atos à referida Igreja militante, eu disse: É necessário que eu me submeta a Deus, que me fez fazer isso."
"Eu creio na Igreja aqui da Terra; mas dos meus fatos e ditos, como disse anteriormente, eu me entrego a Deus. Creio que a Igreja militante não pode errar ou enganar-se, mas quanto aos meus ditos e fatos, eu os submeto todos a Deus, que me fez fazer o que eu fiz. Eu me submeto a Deus meu criador, que me fez agir assim. Submeto-me a ele, à sua própria pessoa."
Quando Joana se refere aos seus atos e ditos ela está se referindo à sua ação guerreira pela França. E as orientações que recebeu das Vozes sobre esta missão. Ela foi encarregada por Deus, conforme sua firme convicção, de salvar o Reino da França e garantir ao rei francês o seu reino. Nada na missão de Joana implica numa revelação religiosa ou está associada a origem de uma nova devoção. Há devoções na Igreja originadas em revelações particulares, como a da Medalha milagrosa que foi revelada por Nossa Senhora a Santa Catarina Labourê; o escapulário do Carmo, revelado por Nossa Senhora à São Simão Stock, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus pedido pelo mesmo, à Santa Margarida Maria e mais recentemente a devoção a divina misericórdia revelada a Santa Faustina com visões de Cristo. Estas revelações são apreciadas pela Igreja e só é permitido culto público depois de aprovadas. Mas nada na missão ode Joana tem característica religiosa ou devocional. É uma missão puramente secular, militar, civil e ainda mais, política. Tratava-se de escolher um rei francês ou um rei inglês para o reino da França. E ambos eram cristãos e católicos. Quando Joana afirma inúmeras vezes que submete sua missão apenas à Igreja Triunfante, ela na verdade está salvando a Igreja miltante, de tomar partido numa guerra entre cristãos, adoradores do mesmo Cristo. E a própria Joana faz questão de mostrar bem esta diferença entre o aspecto político e o religioso. Ela pede para ouvir missa celebrada por padres do partido inimigo:
"Eu vos peço que me seja permitido ouvir missa nesse traje (de homem) e receber a Eucaristia na época da Páscoa."
Perguntam se ela vestiria roupa de mulher, deixando as masculinas de uma vez, para ouvir a missa e Joana responde:
"Terei bom conselho sobre isto e depois responderei. Peço-vos, porém, em honra de Deus e de Nossa Senhora, que me seja concedido ouvir missa, nesta boa cidade de Ruan.
Depois e ela propõe mudar o traje e vestir roupa de mulher só para ouvir a missa, contanto que garantissem a ela que retomaria as roupas de homem quando voltasse à prisão. Mas os seus juízes não aceitam. O traje de homem servirá, mais tarde, para eles forjarem a abjuração de Joana prometendo que ela seria retirada da prisão dos ingleses se voltasse a usar roupas de mulher e ouviria missa. Claro que Joana aceita; mas na verdade eles anunciam uma mentira dizendo que ela que negou suas vozes. que fosse enviada por Deus. E fazem Joana voltar à mesma prisão inglesa cercada de ingleses que ameaçam sua integridade física. Deixam a roupa de homem ao seu alcance. Ela, naturalmente as retoma e desta forma pode ser acusada de Relapsa. Até hoje muitos autores até católicos, ainda acreditam, que Joana negou suas vozes e missão de depois se arrependeu. Um destes é o Gabriel Chalita em seu Livro mulheres que mudaram o mundo. Esta abjuração nunca aconteceu. Joana já dissera outras vezes que usaria um vestido se fosse para sair da prisão. e escapar dos ingelses. Amparados nestas palavras dela é que foi forjada toda a trama da abjuração com a falsa promessa que que ela seria retirada da prisão inglesa e teria mulheres para vigia-la. Bastaria para isto assinar um documento. Joana era analfabeta. Todas as vezes que insistiam com ela para negar suas vozes ela dizia não. Quando um dos clérigos disse que ela assinasse que assinando iria ficar livre dos ingleses Joana consentiu e disse: "Avante pessoal da Igreja. Tirai-me da mão dos ingleses meus inimigos" Prova evidente de que ela não entendera que por esta assinatura, (na verdade sua mão foi forçada, pois inicialmente ela fez um circulo) ela estava renegando suas vozes e missão.
Mas voltando a questão da submissão à Igreja, está claro que Joana no que diz respeito a fé , à doutrina, aos sacramentos, ela é completamente fiel à Igreja. Ela crer no que a Igreja sempre ensinou. Que a Eucaristia é o corpo de Cristo, o seu Salvador, conforme suas próprias palavras. Que pelo sacramento da confissão Deus nos perdoa os pecados, mediante o padre. Quando mandam que ele reze o Pai-Nosso, a Donzela diz: "Eu o rezarei de boa vontade. Se não o fiz da outra vez, foi para que Monsenhor de Beuvais me ouvisse em confissão." Ora, ela pede para ser ouvida em confissão pelo bispo que tinha a intenção de condena-la. Fica bem claro que Joana separa o inimigo partidário dos ingleses, do bispo homem da Igreja, que continua bispo tanto com os bispos partidários do rei. Só lembrando: os juízes de Joana eram todos franceses que defendiam o rei inglês. Perguntam se Joana submeteria tudo o que fez ao Papa. Ela diz: Leve-me até ele. "Diante dele responderei tudo o que tenha que responder." Mas uma vez ela está protegendo sua missão guerreira de se tornar uma questão religiosa. Que force a Igreja como instituição a escolher entre uma Inglaterra católica e uma França também Católica. Mas os seus juízes, ávidos de sede de vingança, não quiseram compreender desta forma. Queriam colocar o diabo na causa do Rei francesa. E precisavam provar que Joana era herege e infiel. Desta foram nunca poderia ser enviada por Deus. Um tribunal imparcial teria simplesmente concluindo que Joana era uma boa e fiel católica.E fervorosa francesa. Quanto as suas revelações como em nada estas contrariavam a doutrina católica eles deixavam ao critério de cada um crer ou não.. Pois no que diz respeito a ela ser enviada por Deus em favor da França isto era assunto que dizia respeito só a própria Joana, já que a Igreja jamais poderia tomar partido. De certa forma foi o que fizeram os juízes do lado do rei francês, antes de Joana, agir; eles concluíram que ela era uma católica fiel que nada nela estava em desacordo com a fé. Mas se resguardaram de definir a origem de suas visões. Entenderam que poderia ela poderia ser um instrumento de Deus para por fim a um conflito com mais de cem anos entre dois reinos cristãos.
Desta forma, longe de ser a primeira ´protestante Santa Joana foi para época, em relação a Igreja na França e na Inglaterra, a salvadora da Igreja no sentido de deixa-la fora da questão guerreira envolvendo os dois reinos cristãos. Demonstrando de forma evidente a separação entre a esfera temporal, civil e a religiosa, em questões políticas. A Igreja pode e deve orientar o fiel leigo em relação à política. Se partidos políticos promovem o divorcio, o aborto, o homossexualismo, a eutanásia, um católico fiel, não pode se filiar a um partido deste e nem votar em candidatos destes partidos. Mesmo que ela venha com a historia de defender os pobres e os oprimidos. Mas a Igreja não tem partido. Santa Joana sabia que a Igreja, era maior do que o pessoal da Igreja, conforme suas próprias palavras. Não era francesa e nem inglesa. Em questões assim, só a Igreja lá de cima pode sim, tomar partido em vista de um bem maior, porque Deus conhece os fins de todas as coisas e as razões para interferir na historia entre os povos. Só ele é o soberano absoluto de todas as nações para decidir entre uma nação e outra em vista de um bem maior ou de um mal menor a evitar. (Na Bíblia Deus escolheu um povo dentre todos os outros, para mandar o seu filho ao mundo) Por isto Joana diz sem medo: Deus a fez agir em favor da França para o bem de todos. E diríamos em favor da Igreja também ao faze-la compreender e separar bem, a sua missão política e guerreira, de sua fé católica, a quem ela sempre foi fiel.
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