A doutrina da imaculada conceição de Maria - que afirma
que a mãe de Jesus foi concebida em graça e livre do pecado original em virtude
dos merecimentos de seu filho Cristo - é o maior exemplo da salvação pela graça
e pela fé. Pois, neste caso, não só a eleição da virgem à Maternidade divina
foi inteiramente um dom da parte de Deus mas também sua santidade singular. Não
os foram de fato em virtude de nenhuma obra a que houvesse praticado, nem mesmo
as obras morais da Lei, porque recebeu a graça e a fé infusa por Deus em sua
alma no mesmo instante em que foi concebida no ventre de sua mãe. Insista-se, a
Virgem Maria por si mesma não produziu boa obra nenhuma. Pois bem, é como se a
Virgem Maria houvesse sido batizada na morte de Cristo em seu próprio ventre;
não antes do nascimento, mas no momento de sua conceição; no mesmo momento em
que se deu a união das células reprodutivas de seus pais e em que sua alma foi
infundida por Deus no corpo gerado por eles.
Sabemos que nossa justificação ou a passagem do estado de
pecado original para o estado de graça é sem merecimento algum de nossa parte.
Em ordem à nossa salvação, tal se dá unicamente em virtude da paixão e morte de
Nosso Senhor Jesus Cristo, porque, ainda que uma pessoa houvesse feito o maior
bem possível, mas não cresse em Cristo e não fosse batizada, não se salvaria em
razão deste bem praticado. Sem o mérito de Cristo, todas as nossas obras seriam
mortas diante de Deus: somente quando estamos na graça de Deus, em comunhão com
ele, nossas obras têm valor e mérito. A Virgem Maria tal como as crianças que
são batizadas não possuem nenhuma obra. Neste caso, o batismo de crianças
expressa de forma radical a gratuidade da Redenção. Batizadas na fé da Igreja e
representada pelos pais, a criança recebe no batismo a graça e a fé e se
liberta do pecado original sem merecimento algum, sendo assim unicamente pela Redenção
de Cristo.
Pela Imaculada Conceição de Maria, manifesta-se o amor
gratuito de Deus em favor de uma criatura que nada fez por merecer; a
predestinação é livre, portanto. Concebida em graça, por certo a Santíssima
Virgem cresceu cada vez mais em todas as virtudes e em obras de modo que se
tornou a criatura mais agradável a Deus. Isso, então, por ter sido salva de
forma mais eminente. Portanto, pela imaculada conceição, manifesta-se
claramente que na vida da Virgem Maria que tudo se deu mediante a graça e a fé, e ainda
logo no início de sua existência, desde sua santa e imaculada conceição no
ventre materno.
Prof. Francisco Silva de
Castro
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