Encerrado o mês de julho, rico em festas litúrgicas, pois é o mês da memória de São Bento, da Rainha do Carmo, a Santíssima Virgem Maria, dos Santo avós do Cristo, Santa Ana e São Joaquim, de Santa Maria Madalena e de Santa Marta, alem do grande missionário e defensor da fé Santa Inácio de Loyola, cuja a memória é celebrada no dia 31 deste mês, encontrei na Regra de São Bento o ponto de unidade que uniram estas pessoas de Deus. Citando os instrumentos das boas obras em sua Regra São Bento indica que um deles é este:
"Desejar a Vida Eterna com toda a cobiça espiritual." RB 14, 46.
Não foi a isto que se dedicaram, renunciando as glórias mundanas, a fama e ao poder, estes que foram citados acima? Cobiçaram com pureza de espírito a Vida eterna porque para estes só importava a glória de Deus. Muitos há que pensam que desejar salvar-se ou ir para o céu é presunção ou orgulho. De forma alguma. Seria presunção se desejássemos a salvação sem cumprir com os meios necessários para alcança-la, permanecendo numa vida pecaminosa, confiando na misericordiosa de Deus, que é sim , infinita, mais nunca injusta; quiséssemos a vida eterna usufruindo de toda a glória desta vida. Afinal não foi para isto que fomos criados? Sim, fomos criados para a Vida Eterna, para possuir a Deus, contempla-lo e compartilhar de sua glória.
Jesus afirmou no Santo Evangelho que por ocasião de sua volta não encontraria fé sobre a terra. Porém, vivemos numa época de um despertar imenso de religiosidade. Na Igreja, fervilham movimentos, padres, leigos e escritores que anunciam a "fé," gravam musicas destinadas a louvor a Deus; fazem shows, divulga-se a palavra de Deus na televisão, na internet. Mas será esta a verdadeira expressão da Fé? Era à esta fé que Jesus estava se referindo? Quando servir a Jesus implica em glória perante o mundo, em fama e reconhecimento, em comércio das coisas sagradas, estamos perante a religiosidade e a crendice, mas não diante da fé que Jesus descreve como a que leva a abandonar tudo, vender tudo, para conquistar o único tesouro, expressa nas parábolas do Reino. A prova de que uma vocação é autentica é se aquele que a seguiu perdeu alguma vantagem perante o mundo. Na vida dos santos percebemos isto. Eles abandonaram ou foram abandonados pelas familias e amigos, incompreendidos pelos irmãos na fé; muitos renunciaram ao dinheiro e poder no mundo e assumirem uma vida de necessidades.
Hoje percebe-se o contrario. Por causa da religiosidade ou sede de Deus de muitos, proliferam bandas religiosas e cantores que adquirem fama e dinheiro. Há milhares de lojas de artigos religiosos e autores que vendem muitos livros, cujo a temática aborda desde espiritualidade até auto-ajuda. Parece que estamos no século da fé. De certa forma estes já recebem neste mundo a glória, a fama, a admiração de todos. Mas o objetivo maior, o único, pelo qual vale pena viver é um só: Cobiçar a vida Eterna espiritualmente, como bem escreveu São Bento. E ele mesmo nunca quis aparecer, mostrar-se ao mundo. Mas como sua luz, pelo amor que tinha a Deus, era intensa, trouxe para si outros, que renunciando ao mundo, desejavam a vida eterna com toda cobiça espiritual. Para estes a fama, poder, dinheiro, até mesmo a e evangelização de massa, se os colocassem em destaque, mas do que o mesmo Evangelho era renunciado. Foram capazes de perder tudo que de bom o mundo oferece para visar o único necessário: A vida eterna.
Creio estarmos vivendo o que Jesus anunciou. Não há mais no mundo de hoje a fé fervorosa e até aparentemente louca da Igreja dos santos e dos mártires. Há sim, uma espécie de fé de publicidade, de promoção pessoal a custa da crendice e necessidade espiritual de muitos. Mas a fé que faz tudo ser um nada, comparada com a conquista da vida eterna, a fé que deseja e almeja apenas a glória de Deus, está diminuindo e nem se quer é mais percebida ou desejada. Desejemos com fervor, no íntimo de nosso ser, a vida Eterna, e que pela graça de Deus, este desejo cresça em nós assim como a determinação de alcança-la.
Caríssimo Prof. Francisco, Laudetur Dominus!
ResponderExcluirExcelente reflexão! A contraposição feita entre Fé e crendice no meio católico é bastante oportuna.
Pax et Salutis