Mesmo na vida dos santos que inciaram por revelação, uma devoção nova como a do Escapulário do Carmo à São Simão Stock, a do Sagrado Coração de Jesus à Santa Margarida Maria e a mais recente , a da Divina misericórdia, à Santa Faustina, eu não consegui encontrar o puro cristocentrismo ou teocentrismo como nos objetos sagrados, que Santa Joana d´Arc conduzia. Estas devoções citadas, aprovadas e recomendadas pela Igreja, estão certamente vinculadas a Cristo e retiram o seu valor não do objeto em si mesmo ou da própria devoção, como o define a Igreja. Porém, na religiosidade popular, praticamente o objeto se tornou valor por si mesmo chegando em algumas situações muito próximo da superstição, como se o escapulário fosse magico ou a imagem de Jesus misericordioso garantisse ou estas obrigassem Jesus a nos dar uma graça ou proteção especial. Criasse méritos em nós, com o direito de exigir de Jesus proteção e salvação.
Santa Joana d´Arc foi acusada de portar objetos mágicos. E estes objetos eram, o mais importante a bandeira, em que estava pintada Cristo, sentando sobre um Arco-Iris, ladeado por dois anjos, que os juízes identificaram como sendo São Miguel e São Gabriel , oferecendo cada um, uma flor de lys a Jesus (ou Deus, como se refere Joana) que segurava o mundo. Dois anéis dos quais, um havia sido dado por seus pais, em que estava o desenho de três cruzes e os nomes Jesus-Maria como se fossem uma só palavra; uma bandeirola representando a cena da Anunciação que indicava o local em que Joana se encontrava quando em combate e o Estandarte para as orações antes das batalhas, representado a crucificação de Cristo, tendo ao lado A Virgem e o discípulo amado. Os juízes sempre tentarão indicar que Joana tinha estes objetos como mágicos. Perguntam se quem portasse sua bandeira teria tanta sorte quanto ela na guerra. Joana responde com firmeza. "Quando me referi a sorte da minha bandeira, quis indicar a SORTE QUE DEUS QUIS COLOCAR NELA, porque fosse do estandarte ou de Joana a vitória, TUDO VINHA DE DEUS. Nunca li melhor definição para explicar o que é um sacramental. O essencial é isto: TUDO VEM DE DEUS. Nenhum objeto por mais santo ou mais sagrado seja tem poderes por si mesmo. O que importa é o vinculo deste com Deus. A espada de Joana, encontrada milagrosamente na Igreja de Santa Catarina, também foi muito investigada. Ela tinha cinco cruzes e a própria Joana afirmou que nunca soubera o que estas significavam. Os juízes insistem para que ela diga se mandou benzer sua espada ou colocar sobre o altar para ter boa sorte. A donzela diz que nunca fizera isto ou se houvesse sido feito não foi a pedido seu. E ainda reforça. É bom que saibam que eu queria sim, que minhas armas tivessem sucesso. Mas para enfrentar o inimigo ela diz preferir a bandeira do que a espada, pois evitava de no agito das batalhas de ser obrigada a matar alguém, seguindo suas palavras. Os dois anéis de Joana foram arrancados dela quando foi aprisionada. Um deles ficou com o bispo. Ela insiste que o mesmo seja entregue à Igreja. Para os juízes, estes anéis também indicavam superstição, envolvimento com magia. Joana afirma que muitas vezes olhava e beijava estes anéis porque recordavam seus pais de que havia recebido um deles. O outro fora dado pelo seu irmão. E que um deles; neste só havia três cruzes e os nomes Jesus-Maria. Uma só palavra. Que meio mais forte para indicar o mistério da encarnação? Jesus-Maria. Um vindo do outro. Maria de Jesus, criada pelo Verbo eterno e Jesus de Maria, concebido em seu útero Virgem. Jesus-Maria. Unidos no mistério da encarnação de forma inseparável. Jesus vivendo em Maria segundo a expressão de São Luis Maria de Montfort. Ainda em sua vida pública, o filho, para fazer a vontade do Pai e dar o exemplo de maior amor a Deus, do que aos pais, preferiu o afastamento físico da mãe. (Mc 6, 1). Unidos agora por toda a eternidade forma sem comparação, no paraíso. Joana revelava, embora fosse uso comum na época, ao assinar suas cartas com as palavras Jesus-Maria, a razão do culto a Mãe do Senhor. Outra forma de dizer: Tudo a Jesus por Maria. Porque Maria tudo reverte para Jesus.
Os sacramentais, principalmente os escapulários, hoje estão na moda. Fiquei escandalizado ao ver uma aluna, com um escapulário no pescoço, com o simbolo do flamengo na frente e o urubu do dito time atrás.( Se os que existem por aí com imagens de santos e santas já não são o escapulário mariano), o sacramental que indica a filiação espiritual aos carmelitas, imagine escapulários de times. Outro aluno me disse que havia também o do Coríntias. Este , pelo menos, trazia São Jorge, (padroeiro imposto ao Coríntias, pois tenho por certo que o time dos santos, sempre foi a Igreja de Cristo e nenhum outro) atrás, no lugar do Urubu, mascote do Flamengo.
Neste tempo em que muitos na Igreja, desprezam os sacramentais, o mundo os vulgariza; de certa forma os ridiculariza. Na época em que cocos, objeto profano, serve de simbolo da palavra de Deus, não sei por qual motivo, se fez uma procissão da Palavra, que nem é ato litúrgico da missa, (A Palavra, o Evangelho é para ser incensado e apresentado) com a Bíblia dentro de um coco.
Que Deus nos conceda a sadia religiosidade popular de Santa Joana d´Arc. O que importa é reconhecer a ação de Deus e a forma como Ele quer agir. Ela mesma, um dos maiores sacramentais de Deus. "Agradou a Deus agir assim. Por meio de uma pobre Virgem, expulsar os inimigos do Rei." Jesus não precisava fazer uma lama com seu próprio cuspe para curar um cego. Mas o fez. E por que? Creio que, para aqueles que o viam naquela ocasião, era necessário que vissem algo material, um ritual, uma expressão concreta. E alem disso para indicar que tudo que nos traz o bem, vem de Deus e depende de Deus. (Só alertando que este gesto de Cristo não justifica fazer coco parte da liturgia da missa. Basta o que Jesus já deixou de material mesmo: O pão ázimo e o vinho de uva. E Basta!) É Deus que coloca nestes objetos sagrados o poder que ele quiser. Tudo para a glória do seu nome. Que a Igreja volte a usar e explicar, o rico sentido dos sacramentais, antes que comecem também, se é que já não o fizeram, a inventar escapulários com imagens do capeta e de uma caveira, símbolo da morte. Livrai-nos Senhor. Sede a nossa proteção. Que o sagrado seja sagrado e o profano impossível de sacralizar, seja evitado.
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