Há um fato narrado pelos quatro Evangelhos sobre Jesus
que sempre me deixou incomodado e para o qual não havia encontrado uma
explicação satisfatória. Trata-se da chegada da Mãe e dos irmãos de Jesus que
chegaram para encontra-lo enquanto ele pregava ao povo. Marcos o coloca bem no inicio da vida publica
de Jesus.
Mc. 3
31 Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora,
mandaram alguém chamá-lo.
32 Havia muita gente assentada ao seu redor; e lhe disseram: "Tua
mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram".
33 "Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?", perguntou
ele.
34 Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse:
"Aqui estão minha mãe e meus irmãos!
35 Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha
mãe". (Mt 12,46-50; Lc 8,16-21)
Incitando suas pregações vemos que Jesus despetala o
interesse e o fervor da multidão. Muitos são os que o seguem maravilhados; Sua
doutrina os surpreende. E o próprio Jesus fica entusiasmado com esta recepção.
É isto que o Evangelho de Marcos deixa transparecer. Temos Jesus entusiasmado
por causa das multidões que o procuram para ouvir a Palavra de Deus. No entanto
para os parentes a dedicação de Jesus ao anunciar o Reino traz preocupações. Ele
não está se alimentando bem. Pode ate
ser que tenha enlouquecido. Estes pegam a mãe de Jesus, que como toda mãe sem
duvida se preocupa com o filho e vão a procura dele para ver como ele está. E recebem
como resposta aqueia frase dura que Jesus dirige não tanto aos parentes, mas à
própria mãe. "Quem é minha mãe?" É como se este dissesse que mãe eu
tenho? Imagine uma mãe ouvir isto de um filho. E Marcos ainda frisa que ele
apontou para aqueles que estavam sentados ao redor dele e disse: estes que
estão aqui agora são meus irmãos e minha mãe. Lucas em seu Evangelho vai
amenizar dizendo que são todos os que (agora e no futuro) ouvem a palavra de
Deus e a colocam em pratica. (L 8,21) Porem não há duvida que Jesus referia-se
aqueles que o estavam ouvido naquele tempo. Aqueles que o seguiam. Toda vez que
este texto é lido afirmam que Jesus fez um elogio indireto à sua mãe. Isto é
claro para nós hoje. Mas não para os que o ouviram naquele tempo. Hoje sabemos
por Lucas que Maria foi antes de tudo uma perfeita discípula de Jesus. (Lc 1,45;
2,19. 51) Mas não o sabiam os apóstolos e os seguidores de Jesus, ou seja, o
povo.
A descoberta de Maria como mulher de fé se dá após a
Ressurreição quando ele e os ditos irmãos estão em oração no cenáculo com os
apóstolos. (At 1,14). Provavelmente para muitos contemporâneos Jesus com esta afirmativa
deixou evidente um conflito familiar no
qual a própria Mãe de Jesus parecia estar incluída. Teria Jesus desprezada a
maternidade biológica de Maria? Muitos entendem que sim. Se não desprezou, no
mínimo, não há considerou, neste caso.
Mas se nos atentarmos na questão de parentesco carnal
para os judeus percebemos que estes valorizavam demasiadamente o parentesco sanguíneo. João Batista já os acusava de achar que receberiam
o Reino de Deus pelo simples fato de serem filhos de Abraão. (Lc 3,8) E Evangelho
de João mostra quantas vezes eles se orgulharam de ser o povo escolhido de
Deus. (Jo 8,41)
Jesus corrige esta ideia de que o Reino de Deus se
adquire por herança. E o que o vinculo mais forte é o parentesco carnal. Acima
deste está a fidelidade a Deus a qual todos nós somos chamados independente de sermos
parentes carnais Do Senhor. A verdadeira família de Cristo se dá pela fé e não pelos
laços de sangue. Se não houve um elogio Maria tampouco houve um desprezo
intencional da parte de Jesus. Coube à Igreja depois descobrir na mãe de Jesus
posteriormente o exemplo de quem entendeu a mensagem do Filho e perceber com o afirma
Lucas que ela foi a primeira que sempre ouvia sua palavra e a guardava no
coração.
Prof. Francisco Silva de
Castro
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