Predomina no meio católico a religiosidade popular. Católicos no Brasil e em grande parte do mundo são identificados como aqueles que rezam aos santos e as suas imagens; fazem romarias e promessas. A doutrina católica, quase desconhecida é indiferente aos católicos populares. Como também a definições morais e éticas. Mesmo quanto à exclusividade no catolicismo, estes católicos, também frequentam a missa dependendo da necessidade, rezadeiras e centro de umbanda ou espíritas. A Igreja admite e de certa forma incentiva esta religiosidade popular, principalmente nos grandes centros de romaria. Em sua doutrina, a Igreja reconhece que devemos aos santos um culto de dulia ou reverência religiosa e que eles intercedem por nós. No entanto, recusa qualquer forma supersticiosa deste culto e a mistura da doutrina e ritual católico com doutrinas, que ensinem ou promovam crenças ou ritos, que vão de encontro à doutrina católica. Se a religiosidade popular não pode ser proibida, é dever de todo católico orienta-la, para que seja uma forma de expressão correta da própria doutrina da Igreja. Verdadeiro exemplo de piedade católica popular e correta, temos nas respostas de Santa Joana d´Arc aos seus juízes. Ela mesma nunca leu a Bíblia ou outro livro de formação e espiritualidade. Aliás, era analfabeta. Não pertencia a nenhuma ordem religiosa. Foi instruída pela própria mãe recebendo apenas o fundamental da fé católica. Como ela mesma confessa.
"Minha mãe me ensinou o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Credo. Não aprendi de outra pessoa a minha crença, mas só de minha mãe."
Costume hoje abandonado. Os primeiros catequistas devem ser os pais. Na verdade foi pela fé dos pais que a criança foi batizada. Na fé da Igreja. Cabe aos pais e principalmente à mãe ser a primeira catequista. O insucesso da catequese hoje decorre do fato de os pais, nada terem ensinado antes a criança sobre a doutrina católica. Os abandona ao catequista e a criança não ver em casa, nenhuma manifestação de fé, só idas a novenas e romarias em certas ocasiões.
DEUS E JESUS
Santa Joana assume como plena convicção a doutrina da Igreja, mas a reforça com um aspecto pessoal. Deus é o criador do céu da Terra, mas antes de tudo é criador e juiz dela mesma. A quem ela ama acima de tudo e este amor se manifesta na obediência à sua vontade.
"De tudo descanso em Deus MEU CRIADOR; Eu o amo de todo meu coração."
"Eu me submeto a Deus, meu criador."
"Creio agir melhor obedecendo e servindo ao meu soberano Senhor, isto é, a Deus."
"Se Deus ordenava era preciso fazê-lo. Tivesse eu cem pais ou cem mães, ou fosse filha de rei, teria partido assim mesmo."
JESUS É O REI DO CÉU E DA TERRA E PRINCIPALMENTE O SEU JUIZ E REDENTOR.
"Creio que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu paixão e morte resgatando-nos das penas do inferno."
"Confio em meu juiz. É o rei do céu e da Terra."
"Meu Senhor é o rei do Céu."
A ORAÇÃO
Joana sabe de cor as orações católicas tradicionais. Como dito acima. Mas faz oração pessoal, conforme a necessidade. Ela confessou a um dos seus guerreiros que quando as pessoas não a ouviam ela comunicava chorando isto as vozes e recebe ia com resposta uma palavra de incentivo. "Vai Filho de Deus. Deus te ajudará." Outra oração pessoal ela apresentou aos juízes no julgamento em que foi perguntada como pedia conselho às vozes.
Peço deste modo: “Dulcíssimo Deus, em honra de vossa Santa Paixão eu vos suplico, se me amais revelai-me o que devo responder a estas pessoas da Igreja..."
Para Joana, Deus é sempre o Cristo. Sua piedade é Cristocêntrica, alias como o é na sadia religiosidade popular. Na devoção popular incorreta ou mal compreendia, o centro é sempre algum santo ou santa, até mesma desvinculada de Cristo. O Pai e o Espírito Santo ficam ocultados diante da divindade de Jesus. Porem, para Santa Joana, ao mesmo tempo, fica claro que Deus é o crucificado, ou seja, Jesus feito homem e que padeceu paixão e morte na cruz, para nos redimir das penas do inferno; ela confessa isto em duas ocasiões durante o interrogatório.
"Creio que nosso Senhor Jesus sofreu paixão e morte nos resgatando das penas do inferno."
OS SANTOS SÃO INTERCESSORES
“Eu lhe pedi sobre o que devia responder (referindo-se a Voz) , dizendo-lhe para pedir conselho a Deus sobre isso.”
"Quando faço pedido a Santa Catarina, ela e Santa Margarida fazem pedido a Deus, e depois por ordem de Deus, me dão a resposta."
Observar o vinculo indispensável, da ligação entre os santos "que estão no paraíso" conforme expressão da própria Joana e Deus. Em outra ocasião, quando perguntada se as santas odeiam os ingleses, Joana com simplicidade, resume o segredo da santidade.
"Elas amam o que Deus ama e odeiam o que Deus odeia."
Linguagem limitada pela compreensão humana e baseada na realidade terrena, mas que transmite uma grande verdade. A vontade dos santos e de todos os cristãos, só deve ser uma: a vontade de Deus.
IGREJA E A FÉ CRISTÃ
Joana faz muitas afirmações de amor a Igreja.
"Quanto a Igreja eu a amo e desejaria sustentá-la de todo o meu poder para a nossa fé cristã... se estiver sobre o meu corpo alguma coisa que os clérigos possam dizer ser contra a fé cristã, que Deus estabeleceu, não desejaria sustentá-la, mas lança-la fora de mim."
"Creio que a Igreja não pode errar ou enganar-se."
JOANA E OS SACRAMENTAIS
Santa Joana possuem sacramentais próprios. Usa anéis, um estandarte e uma espada. Foi acusada de colocar nestes objetos a origem de sua vitória. Ela também venera as imagens dos santos. Porem nunca esta veneração é separada da de Deus. Alias ela compreende que todo poder vem de Deus e que as imagens dos santos representam aqueles irmãos que estão no paraíso, junto a Deus por isso são reverenciadas. Vejamos suas respostas sobre estes assuntos.
"Fosse de Joana ou do estandarte a vitória, tudo dependia de Deus."
"Quando me referi a boa sorte do meu estandarte, quis dizer da boa sorte que Deus quis colocar nele."
"E eu estava com as outras rezando diante da imagem de Nossa Senhora."
"Muitas vezes ofereci velas a Santa Catarina e Santa Margarida, mas foi as imagens delas nas igrejas."
Porem a diferença fundamental entre Joana e os católicos de devoção é o seu grande amor à missa e à eucaristia. Seu maior sofrimento na prisão é ficar sem ouvir missa e receber a Eucaristia.
"Eu vos peço poder ouvir missa vestida com roupas de homem e receber a Eucaristia na páscoa."
"Dai-me um vestido bem longo para ir a missa.; na volta ,vestirei de novo a roupa que estou usando."
"Estive numa abadia onde ouvi três missas no mesmo dia." ( E lembrando que a missa era latim.)
"Eu vesti as roupas de novo porque não cumpriram o que prometeram, a saber, que eu iria à missa, receberia o corpo de cristo e ficaria livre da prisão."
Em relação ao sacramento da Confissão.
"Eu me reporto a uma boa confissão" e "Nunca é demais limpar a própria consciência."
Este é o exemplo de uma humilde mulher do povo. Que nunca estudou Teologia ou leu as Sagradas Escrituras. Mas possuía uma fé genuína. Católica até as entranhas. Que sabia ser Deus o criador e senhor de tudo e de todos. Que na Igreja desejava receber o mais importante: Os sacramentos da Eucaristia e da confissão. Que pautava todas as suas ações pela vontade soberana de Deus. Modelo para toda catequese popular e exemplo para o povo, a fim de que estes não reduzam a sua religiosidade a costumes supersticiosos ou deixe em segundo lugar a doutrina da Igreja e oculto legítimo aos santos com servos de Deus e nossos irmãos na fé.
Santa Joana d´Arc rogai por nós."
Todas as respostas de Joana foram retiradas do livro O PROCESSO DE CONDENAÇÃO DE JOANA D´ARC de Sebastião Meirelles Texeira, Editora Reedel, 1996.
MARAVILHOSO! EXCELENTE TEXTO! VIVA A PIEDADE POPULAR! VIVA SANTA JOANA D'ARC! VIVA A SANTÍSSIMA TRINDADE!
ResponderExcluirA verdadeira piedade popular e não aquela dos centros de romarias como Canindé e Aparecida e principalmente Juazeiro do Norte, com o culto ao Pe. Cicero que nem canonizado é. Nestes santuários se deveria catequizar o povo ensinando os principais artigos da fé e a participar da comunhão e recebendo o perdão pelo sacramento da penitência. Estes centros de romarias Infelizmente se mostram mais como centros de comércio religiosos e como turismo. Agora estas cidades até se referem as romarias como turismo religioso. Só para exemplificar: São José é o padroeiro do Ceará. Geralmente em época de seca o povo daqui reza pedindo chuva a São José, porque geralmente chove no dia dele, 19 de março; mas como este ano tem chovido desde o inicio do ano praticamente nem se ouviu falar de São José na mídia e pelo povo. Muitos nem sabiam porque era feriado. Ora ,são José é um grande Santo não porque manda chuva, como se fosse o deus da chuva, mas porque é o justo esposo de Maria e o pai de Jesus segundo a lei. Aliás se não fosse por São José, Jesus não seria descendente de Davi, já que as mulheres, segundo os judeus, não transmitiam o nome ou a descendência.
ResponderExcluirSó vejo um unica coisa positiva em centros de romarias. A oportunidade de catequizar o povo. Ação que infelizmente não é feita por quem deveria, os padres.