terça-feira, 10 de abril de 2012

Entrevista Antonio Carlos Rossi Keller Bispo de Frederico Westphalen (RS)-Um parte



Publicada na Revista in Guardia. 

In Guardia: Como definir a Teologia da Libertação então?

A meu ver, existem duas “teologias da libertação”. A primeira é aquela que a Igreja sempre anunciou: a libertação do pecado, através da ação fundamental e purificadora da Graça, unida ao sempre insuficiente esforço humano. Esta libertação que nasce da iniciativa divina de salvar, se efetiva na realidade de um coração que se converte a Deus, ao irmão, a si mesmo e ao mundo. Esta TL pura, limpa, reta tem sua expressão bíblica alicerçada, principalmente, nas bem aventuranças do Evangelho, entre tantos outros textos da Sagrada Escritura. Para se poder entender esta Teologia da Libertação que antes de tudo, exprime o primado do sobrenatural na vida e na ação pastoral da Igreja, penso que exista uma “chave de compreensão”. Há um “documento base” para a leitura e a compreensão desta autêntica TL: o Discurso do bem aventurado Papa João Paulo II, pronunciado no Morro do Vidigal, durante sua primeira visita ao Brasil, em 1980.  Aí está expressa, com clareza meridiana, a prioridade da doutrina da Graça, das virtudes e dos dons. Pinço uma única frase do Bem aventurado João Paulo II: “Os pobres em espírito são aqueles que são mais abertos a Deus e às maravilhas de Deus (Atos 2,11). Pobre em espírito não significa exatamente o homem aberto aos outros, isto é, a Deus e ao próximo? Pobres em espírito – aqueles que vivem na consciência de ter recebido tudo das mãos de Deus como um dom gratuito e que dão valor a cada bem recebido. Constantemente agradecidos, repetem sem cessar: “Tudo é Graça!”, “Demos graças ao Senhor nosso Deus”. Vale a pena “desenterrar” este Discurso do bem aventurado João Paulo II... A meu ver, foi este o discurso programático de toda a Visita ao Brasil. As palavras do Papa revelam a autêntica TL,aquela verdadeira.

A segunda TL é aquela falsa, mentirosa, ideologizada, fundada nas palavras de Leonardo Boff, em um artigo no Jornal do Brasil, também em 1980, alguns meses antes da visita do Papa João Paulo II: “O que propomos (com a TL) não é a teologia dentro do marxismo, mas o marxismo dentro da teologia”. Esta TL falsa, indigna da tradição teológica milenar da Igreja, prega não as bem aventuranças, mas a mudança das estruturas econômicas, sociais, políticas e eclesiais. Propugna, por exemplo, em relação à Igreja, a chamada “eclesiogênese”, termo proposto pelo já citado Leonardo Boff. As palavras de seu criador manifestam a idéia de que a Igreja deve fazer-se a partir do “lugar social” ocupado pelo povo: “Precisamos fazer a Igreja que nasce do povo... Essa é a grande virada da Igreja hoje. Igreja que parte de baixo, do povo, e não a Igreja Institucional, que venha de cima. É a eclesiogênese.”

Ou seja, a falsa TL pretende que o homem, que na visão de Marx tem estrutura antropológica imanente, materialista e atéia, possa ser ao mesmo tempo, cristão. E que, como cristão (o que é impossível...), mude o mundo, a sociedade, as estruturas e a própria Igreja...

Assim, a TL mentirosa, não conta com a Graça, com a ação transformadora interna e sobrenatural de Deus em nós. Para a TL falsa, Deus é... ninguém. Deus é só uma idéia, um mito que serve como ponto de referência para animar a “praxis” do oprimido, a luta contra o explorador. Deus é a justificativa racional para a luta pela libertação, reduzida à simples questão material. Lê-se, por exemplo, a História da Salvação tão somente sob a ótica da necessidade da luta do oprimido contra o opressor, do fraco contra o forte, do dominado contra o dominador. E o Deus da Bíblia, na visão da falsa TL, é aquele que justifica a violência.

Ou seja, não há o que definir, em termos de teologia, a falsa TL...

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